Contabilista que nasceu com pescoço virado trabalha com motivação de pessoas
O parto foi muito difícil e quase custou a vida de minha mãe. Minha avó, parteira, tentou fazer o parto, mas não conseguiu porque eu estava numa posição difícil.
Como persisti, ela procurou uma pessoa para me dar aula particular. Assim, aprendi o alfabeto e comecei a formar as primeiras palavras, tudo com a boca.
Estudei e me formei em contabilidade em 2004. Na escola e na faculdade, sempre tive o apoio de todos.
Por ficar com a cabeça para baixo quando estou em pé, muitas pessoas acham que vejo tudo de cabeça para baixo, mas não é assim. Vejo como as pessoas normais.
Em casa, leio revistas, livros e assisto TV, deitado ou em pé. Com uma caneta na boca, digito no computador. Me alimento sozinho, minha comida fica num prato e como só com a boca, sem talheres; bebo líquido também sozinho, com um canudo.
Ando com um sapato especial, feito no hospital da Rede Sarah em Salvador, onde aprendi a me adaptar e fazer minhas tarefas sozinho.
Dependo de outras pessoas para ir ao banheiro e na hora de sair, quando tenho de ser conduzido pelos braços. Mas a cada dia adquiro peso e vai ficando mais difícil sair.
Na minha casa, todos se dividem para me ajudar, não faltam voluntários.
Em 2000, tive uma das maiores emoções da minha vida: conheci o papa João Paulo 2º. Um amigo escreveu para o Vaticano relatando minha história e fui para Roma com ajuda de amigos e familiares. Encontrei o papa na praça São Pedro. Ele me deu um terço, disse que ia orar por mim e me deu a bênção.
Neste ano, tive outra grande emoção, na Jornada Mundial da Juventude, quando conheci o papa Francisco. Depois de muita dificuldade para passar, fiquei com outras pessoas esperando ele ir em direção ao hospital.
Eu e meus amigos gritamos para ele, que chegou até mim, me abraçou e fez o sinal da cruz na minha testa. “Sinta-se abençoado”, falou.
Em 2009, conheci o Zico, meu ídolo, no Maracanã. Sou flamenguista.
Meu trabalho é dar palestras motivacionais em empresas. Acho que nasci designado a cumprir uma missão: ser exemplo de perseverança e superação. Mostro que podemos enfrentar todos os problemas e obstáculos. Temos que aceitar a vida e vivê-la.
Gosto de sair com os amigos, danço, namoro, viajo, faço tudo. Essa motivação é fruto de minha família, que nunca me enxergou como um deficiente. Isso me fortalece.
Fonte: Folha de S. Paulo
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